15/10/2024
Os múltiplos usos do cânhamo (Cannabis ruderalis, conhecido internacionalmente como hemp), planta que é uma das espécies da cannabis, podem ser muito importantes no caminho em direção a um planeta mais sustentável, atendendo tanto os anseios da sociedade, quanto de empresas com propósito e intuito de somar e não só lucrar.
Hoje, é esperado que uma empresa agregue valor à vida dos colaboradores, à população e ao meio ambiente. É por tudo isso que boas práticas ambientais, sociais e de governança estão cada vez mais valorizadas no mundo. E o princípio disso tudo está na preservação do planeta.
E como o cânhamo pode contribuir nesse sentido? Os benefícios ambientais são inúmeros. De plásticos a papel, passando por combustível e fitorremediação, a planta oferece boas alternativas para harmonia com o meio ambiente e os ecossistemas que o sustentam. Aponto a seguir aspectos nos quais o cânhamo pode ser um divisor de águas para fazermos um planeta mais sustentável.
Ao contrário do algodão ou linho, que consomem cerca de 50% de todos os defensivos agrícolas no planeta, o cultivo do cânhamo volume expressivamente menor na cultura. Quando defensivos são pulverizados na terra, podem facilmente se infiltrar nas fontes de água, como um rio, oceano ou lagoa, prejudicando todos os seres vivos que dependem delas.
Além disso, essas substâncias têm sido associadas a câncer, defeitos congênitos, TDAH e doença de Alzheimer. Ou seja, representam riscos tanto para o meio ambiente quanto para a saúde do ser humano. Ao cultivarmos o cânhamo, podemos reduzir significativamente nossa exposição a toxinas e poluentes.
O cânhamo pode crescer em ampla variedade de terrenos e tipos de solo, formando raízes profundas e ajudando a manter o solo úmido, além de evitar a erosão. O caule e as folhas da planta são ricos em nutrientes. Após a colheita, esses resíduos de nutrientes podem ser devolvidos ao solo, rejuvenescendo-o para melhor rendimento no ano seguinte.
Os blocos básicos de construção de plásticos são celulose derivada do petróleo, um elemento altamente tóxico. O cânhamo, por outro lado, é o maior produtor de celulose da terra, com a vantagem de ser biodegradável.
O cultivo do cânhamo é capaz de limpar metais pesados do solo, efetuando a descontaminação, por meio de um processo chamado fitorremediação. Essa prática já foi testada de forma bem sucedida, até mesmo, em Chernobyl, local do maior desastre nuclear da história. Além disso, a planta não demanda muita água e insumos agrícolas em comparação com outros cultivos.
Assim como acontece na maioria das fontes vegetais, o óleo de cânhamo pode ser processado e convertido em biocombustível, cuja queima é menos poluente em relação aos combustíveis fósseis. E o aproveitamento é quase total, pois, além da produção de biodiesel a partir do óleo presente nas sementes e no caule da planta, a parte fibrosa também pode ser empregada para obtenção de versões quimicamente semelhantes às da gasolina convencional.
Grande parte das fibras sintéticas que usamos hoje é fabricada a partir de materiais petroquímicos baseados em polímeros altamente tóxicos. Adicionalmente, a produção desses materiais requer gasto intenso de energia, queimando grandes quantidades de gás, carvão ou petróleo bruto. Como se isto não bastasse, a fabricação ainda libera emissões tóxicas para a atmosfera, ao mesmo tempo em que deixa resíduos tóxicos dentro das fibras.
No entanto, este problema pode ser evitado com o cânhamo. Suas fibras são facilmente removidas da planta e geram roupas com utilização zero de resíduos químicos. Além disso, o tecido é mais durável e resistente aos raios UV.
O cânhamo tem poder para transformar o meio ambiente reduzindo a poluição industrial. A planta faz isso por meio de um processo conhecido como captura de carbono. Ou seja, quando cultivada a planta ajuda a sequestrar o carbono da atmosfera. Cada tonelada de cânhamo produzida equivale à remoção de 1,63 tonelada de carbono do ar.
Meio hectare de cânhamo pode produzir a mesma quantidade de papel que 1,5 a 4 hectares de árvores, em um ciclo de 20 anos. Enquanto árvores demoram entre 20 e 80 anos para estarem aptas à produção de papel, o caule do cânhamo leva apenas 4 meses para ser colhido, desde a semeadura.
Os agricultores que praticam as melhores técnicas conhecem a importância da rotação de culturas por temporada. Esse movimento não só mantém o solo rico em nutrientes, mas também aumenta o rendimento. O cânhamo é a planta ideal para a rotação de culturas, pois enriquece o solo, além de remover toxinas. Seu cultivo ajuda a preservar o solo e o ar mais saudáveis nos próximos anos.
O uso da planta pode se estender também à construção civil. O hempcrete, concreto à base de cânhamo, é um material atóxico e resistente ao mofo, proporcionando ótima regulação térmica e controle de umidade em pisos, paredes e tetos. Além disso, a combinação de cânhamo e limão resulta em um sistema de isolamento acústico superior ao concreto.
Imagine se houvesse uma cultura que pudesse ser semeada em praticamente qualquer lugar do mundo, com baixo uso de defensivos agrícolas e, de quebra, abrindo possibilidades para 25 mil aplicações industriais. Essa cultura é o cânhamo. Da China aos Estados Unidos, o cânhamo pode crescer em variados tipos de clima, oferecendo alto potencial de produção.
De acordo com o último relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre segurança alimentar, 690 milhões de pessoas globalmente estão subnutridas.
E como a planta pode ajudar? As sementes de cânhamo constituem fonte nutricional muito relevante de proteína completa. Possuem ainda todos os nove aminoácidos essenciais, são ricas em fibras, vitaminas e sais minerais. Cerca de 80% de suas gorduras totais são do tipo polinsaturado, o mais saudável, com boas doses dos ácidos graxos essenciais como o ácido linoleico (ômega-6) e ácido alfa-linolênico (ômega-3). Adicionalmente, entregam boas concentrações de vitaminas E e do complexo B, além de fósforo, potássio e magnésio.
Ou seja, utilizar o cânhamo como cultura básica pode mudar para melhor a vida das pessoas globalmente, especialmente considerando o grande número de indivíduos que poderiam ser alimentados e bem nutridos por este superalimento.
Preservar o planeta é, cada vez mais, questão fundamental não só para a qualidade de vida do ser humano, mas de sobrevivência das gerações futuras. O caminho em direção a um mundo mais sustentável é uma equação com múltiplos fatores. O cânhamo é parte indissociável desse processo e pode ter papel polivalente. Todas as condições para explorar os benefícios estão apresentadas e alavancar esta vertente só depende de nós.
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